terça-feira, 22 de junho de 2010

Cena Aberta

Te vi num filme francês
Dos anos em que eram em preto e branco
Te vi num desenho japonês
E voamos pela cidade, como nos meus sonhos

Lembra do café na esquina?
Das lágrimas a escorrer pelo vidro
O frio das nossas mãos
Sabíamos que ali era a eternidade

Então, te vi num filme irlandês
Onde seu cabelo cheirava a morangos silvestres
E nos olhos loucos de Cabíria
Na cena em que perdeu a esperança

Lembra do fundo do mar?
E que na imensidão azul conseguíamos respirar?
Era um filme de fatos fantásticos
Onde na última cena plantamos nossos anéis.

Te vi num filme engraçado
E ri de tudo que fizemos
Teu sorriso é uma doce inspiração
A película que me envolve o coração

domingo, 20 de junho de 2010

Semente

Quem não planta uma árvore, arde a pele ao sol
quem não olha para a lua, anda cego pela rua
a criança pedinte estende sua trêmula mão
quem deposita a moeda tira a vergonha do coração
quem traz no bolso a semente, já não sabe onde plantar
o duro asfalto percorre a vida lançando seu cinza por todo lugar

Ninguém percebe o que diz a poesia
que a essência de deus está na folha, ao bailar com a ventania
 
As mãos fazem círculos no ar
dão voltar sem ter o que pegar
o corpo necessita daquilo que faz a mente viajar
mas estamos sempre no mesmo lugar

Estou olhando pela janela vendo o dia se repetir
as mesmas roupas, os mesmos carros, os mesmos motivos para sorrir

Onde está a vida que nasce por entre as pedras?

Onde está a gota que cai do céu? 

Onde está aquele filme que amamos do Buñuel?

Onde está a minha velha caixa de bonecas de papel?

sábado, 19 de junho de 2010

Na minha escrivaninha

Na minha escrivaninha tem livros, bilhetes, lápis de cor e papéis de desenho, máquina de fotografia, rolos de filme, cartas antigas, porta retrato, música, lembranças, fragmentos, meu computador. 
Não é grande, mas cabe tudo. Herança de meu avô. Aqui ele guardava suas fotografias, suas cartas de amor, documentos, letras de música e poesias que ele mesmo escrevia, e quando ele morreu, descobri escondido no fundo da última gaveta, chocolates! Por causa de sua saúde ele não podia comer doces. Doce infração! Ainda mais doce aos 92 anos de idade.
Agora deixo essa gaveta aberta, está vazia. E sem nenhuma pretenção literária, irei aos poucos preenchendo-a com palavras, pensamentos, idéias, imagens, ou qualquer coisa que me seja valiosa.
Não sou escritora, não sou poeta, não sou artista. Mas recebi de presente uma escrivaninha cheia de segredos e quero desvendá-los.